Andando por Madureira,
encontro o “Chupado”, criado comigo na Favela da Cafua; virou vagabundo desde
novinho. Um dia, saiu com uns comparsas para assaltarem um Banco, deu ruim, a
Polícia chegou na hora, tiro pra caralho de lá e cá, um transeunte foi atingido
por uma dessas balas perdidas que sempre encontram um incauto e, Chupado então,
tomou 36 anos de cadeia, condenado que
foi, por Latrocínio. Desde então, nunca mais foi visto e, sequer ele viu a sua juventude,
preso pra caralho que ficou no Sistema prisional.
Pois então... Surpreendi-me
com aquele senhor com o rosto amassado e curtido por anos e anos de maus
tratos, me reconhecendo...
- Fala aí, Nézinho (meu
apelido de infância), você não mudou nada, hein, cara?! Eu espremi os olhos,
acelerei o meu Core iE7 mental, mas nada de lembrar do homem a minha frente.
Perco a vergonha que sempre rola nessas horas e pergunto...
- Desculpa, mano. Mas não
estou me recordando de você não, cara!
- Sou Nézinho, o Chupado! Da
antiga, cara. Cria da favela.
- Caralhoooooo! Mano, me
disseram que você tinha ido de ralo, cumpadi.
- Quase isso, Nézinho! Tirei
23 anos na cadeia, perdi toda a minha vida naquele inferno.
- Uauu! 23 anos é osso, hein?
Mas e o regime de progressão, cara?!
- Isso é só para “presos-Chefes”,
parceiro, os caidinhos fica por lá ao léu a espera de um milagre de um dia, a
VEP lembrar que vc existe.
- E agora, o que fará da
vida?! Vai continuar, tentando ser rico do jeito + fácil?! rs
- Que nada, parceiro. O crime
acabou na favela, cara. Ando por esses morrão aí e só vejo menos boladaços, mas
tudo com cérebro de papelão, mano. Levantam uma bandeira sem causa e sem honra,
não respeitam morador, não pensam em entocar um dinheiro, só pensam em guerra,
guerra e esse tal de Funk! E vc, Nélzinho, o que deu ppra ser na vida?!
Putz! Como explicar ao criado
na favela comigo que passou preso pra caralho, que eu sou Cana?! Penso... Ahhh,
que se foda! Fiz um Concurso junto com 40 mil para somente 1mil vagas e eu
conquistei o meu lugar, não posso esconder uma vitória dessas!
- Eu sou Cana, cara. Sou um
Inspetor da Polícia Civil!
- Eh, eh, eh... Já tava
ligado. Na cadeia, a gente sabe de tudo. Só perguntei pra ver co’era... Bom
saber que não omitiu... Sinal que você ainda me considera. Sabe mano, queria
que você me ajudasse a arrumar um emprego. Na cadeia aprendi a ser Soldador e
também aprendi que as drogas deixam os playboys alegres e os pretinhos na pedra
lá do IML, aguardando algum parente aparecer para reconhecer o corpo! Domingo,
eu estava vendo em casa, a Marcha da Maconha e pensei comigo: “ Querem curtir o
baseadinho deles na suça (sossego), livre dos tapas na cara dos Canas. Só isso!
E que se foda pra eles que por conta daquele baseadinho, montão de meninos nas
favelas e no morrão morrem para alimentar aquele baratinho!” Adorei qdo os
homis (policiais) chegaram baixando a madeira!
Eu o interrompo...
- kkkkkkkkkkkkkk... Logo você,
dizendo que adorou qdo os PMs chegaram?! Pra mim, vc ficava contente qdo não os
veem por perto.
- Devo mais porra nenhuma a
ninguém, Nelzin (outra forma que me chamavam na infância).
Mas, aprendi do pior jeito que
ser livre tem o seu preço e eu estou disposto a pagar. Mas me diz, você tem
filhos?
- Tenho sim. 2! Um está com 16
anos e vive com a mãe e tenho uma filhota, 4 anos.
- Você está casado..?!
- Digamos que entrelaçado!
Juntos...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
É foda, né, mano. Hoje você manter um relacionamento com esse montão de
novinhas, cheias de fogo na xereca, tá osso, hein?! Eu conheci uma mina lá no
Sistema e dessa relação tive 4 filhos com ela.
- Porra, 4 filhos?!
Puta-quiu-pariuuuu! Com você preso, hein?! Imagina, você livre...?!
Juntos...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (Continua)
